terça-feira, 28 de junho de 2011

Comunicação: Leitura


Comunicar-se é um dos atos mais humanos que existem. Seja por sinais, por escrito, por olhares ou mesmo pela fala, todos nós usamos a comunicação como ponte para o mundo externo. Porem ser bom comunicador e ser bem entendido é uma arte e nem sempre as pessoas nos compreendem com a clareza necessária. Isso se deve em parte pela dificuldade que o ser humano tem em prestar atenção ao outro e em outra medida porque nem sempre a nossa mensagem é interessante o bastante para atrair ou capturar a atenção de um interlocutor.
Estes dias recebi um e-mail pela décima vez e dessa vez resolvi escrever sobre ele. Como muita coisa que circula na internet é falsa (hoax) ou não passa de brincadeira, tentei determinar se é verdadeira ou falsa tal mensagem. O que descobri é que ela começou a ser propagada em inglês e depois foi traduzida ao português. Ao que tudo indica é mesmo uma invenção de alguém. Originalmente o texto começava com a frase: "Aoccdrnig to a rscheearch ". O texto em português faz uma referencia ao resultado de uma (suposta) pesquisa: as pessoas seriam capazes de ler facilmente um texto em que as letras de cada palavra estariam desordenadas, com exceção da primeira e da última letra. Como no texto a seguir:
De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea.Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
Como você pode ver não é difícil logo entender o que está escrito mesmo com as palavras embaralahdas. Esse fenômeno acontece porque as coisas se apresentam a nós como um todo e não como partes separadas. Comigo isso acontece muito com musica, dependendo de qual melodia for, bastam os primeiros acordes e eu já sei qual é a canção que vai tocar. Essa faculdade nos permite identificar o mundo que nos cerca com base em nossa experiência, nossa vivência, sentimentos e impressões. Por isso conseguimos ler uma palavra mesmo que ela esteja com as letras invertidas, pois a palavra é familiar a nós e pertencente a uma língua que conhecemos, além de ser lida por inteira e não letra a letra.
Dessa forma, a partir da primeira e da última letra de cada palavra e das demais palavras próximas, nosso cérebro percebe a palavra correta, mesmo que as letras que compõem a palavra não estejam na ordem correta. Na comunicação, ocorre fenômeno semelhante quando alguém antecipa palavras, pensamentos ou a conclusão de uma frase. Isso é reforçado pelo cotidiano da vida moderna, no qual o tempo é matéria escassa, quer dizer, nossa tendência em “completar” a frase é reforçada pela premência em concluir rapidamente nossos afazeres. Vivemos na época do “flash”e do “fast”.
Voltando a mensagem das letras embaralhadas a conclusão que se pode chegar é que a leitura é uma atividade complexa e que envolve muitos aspectos do conhecimento, que são de diversas naturezas e complexidades diferentes, posto que escrever também é complexo. A leitura é uma atividade, o que implica processos cognitivos, mas também, simultaneamente, processos perceptivos: a leitura, é perceber, identificar as palavras e dar a elas um significado.
Ao aprender a ler, o ato da leitura exige que o leitor conecte a oralidade das palavras com a escrita, fazendo a correspondência entre letras e sons. E quase que magicamente o simbolismo das letras que se juntam para formar uma palavra ganha um som e significado. O leitor aprende a ler as palavras através de um processo de decodificação.
No exemplo da mensagem fica provado que de tanto ler as palavras se tornam familiares aos nossos olhos. A leitura se incorpora ao nosso ser, tanto que, ler torna-se um processo tão automático quanto respirar. E essa facilidade faz com que as pistas visuais possam ser simplesmente o comprimento da palavra ou a sua "silhueta" (contorno) ou mesmo apenas uma letra. O exemplo clássico para ilustrar esta fase é a palavra:. "Coca-Cola", de que logo é facilmente identificado por quase todas as crianças de 5-6 anos de idade  Se mudarmos apenas uma letra da palavra: "Coca-Coca", as crianças não vai notar a diferença a partir da palavra original (nem adultos, por vezes, como alguns experimentos provaram isso).
Se notarmos na mensagem 34 de suas 68 palavras (curtas e comuns por sinal), estão grafadas corretamente. Adicionado a uma sintaxe simples e comum a nossa capacidade de antecipação e auto reflexão de leitores mais ou menos experientes (o sistema utilizado está perto do “erro de digitação”) dá muitas pistas visuais. Além disso, o texto prova também que com a atual mania de abreviaturas, que se estabeleceram graças à comunicação via internet que é rápida e quase supersônica, é um sucesso.