O racismo e o preconceito no Brasil não estão apenas
restritos a discriminação de negros ou pobres. Assim como o discurso de repúdio
não está limitado a uma simples posição política. Quem realmente se preocupa
com seu semelhante tem motivações que transcendem esses limites ideológicos.
Passa a ser uma questão de humanidade ou desumanidade.
A violência contra a população indígena não desperta grandes
comoções, as pessoas pensam que índio é um povo selvagem que vive no mato e
pronto. A ignorância da maioria do povo brasileiro faz com que nossos índios
sejam vistos de maneira pejorativa e preconceituosa. Um grave equívoco e
injustiça praticado contra eles. Todo mundo se maravilha com a cultura Maia, Inca
e Asteca, mas ignora a riqueza cultural e espiritual dos nossos povos nativos.
O Brasileiro se choca tanto com massacres ocorridos em
países distantes como a Síria, mas não sabe que dentro de sua própria nação
atrocidades inimagináveis são praticadas á décadas e décadas contra os povos
indígenas. Basta ler o “Relatório Figueiredo” que ficou desaparecido durante
muitos anos. Nele estão relatos que deixariam horrorizados até mesmo os
sanguinários Muamar Kadafi, Sadan Hussein ou Assad. Armas Químicas ou biológicas?
No relatório está demonstrado que para ficar com suas terras fazendeiros
misturavam veneno ao açúcar oferecido aos índios ou davam brinquedos
contaminados as suas crianças com cepas de doenças como a varíola. Massacres?
Segundo o relatório índios eram metralhados e até mesmo aviões lançavam
dinamite em suas aldeias para exterminá-los. Torturas? Os índios eram
chicoteados em troncos, apanhavam, eram presos, suas mulheres estupradas e seus
filhos escravizados. Fraudes? Estima-se que cerca de 1 bilhão de reais em
valores atualizados foram desviados das instituições que cuidavam dos índios na
época. Além de suas terras terem sido vendidas a empresas de mineração,
madeireiras, políticos e grileiros.
P.S.: O relatório foi encomendado pelos próprios militares e
chefiado pelo então procurador da república Jader de Figueiredo Correia. Foi
solicitado depois de denúncias apuradas por duas CPIs (Comissão Parlamentar de
Inquérito) nos anos 1955 e 1962 que apontaram irregularidades cometidas pelo
SPI (serviço de Proteção ao Índio), órgão que antecedeu a Funai (Fundação
Nacional do Índio). O relatório foi encontrado no Museu do Índio no Rio de
Janeiro, depois de mais de 40 anos desaparecido e dado como perdido em um
incêndio. Jader de Figueiredo morreu num acidente de ônibus nunca esclarecido
aos 53 anos.
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