quinta-feira, 24 de março de 2011

Tarda


Tarda, mas ainda é tempo de mudar o rumo e investir mais na felicidade do que na produção, no ser do que no ter, no amar do que no concorrer, na solidariedade do que no confronto, na vida do que na morte(Ricardo Kotscho, jornalista brasileiro)

 Depois do almoço, vem à tarde, então agora tarda. Nas lonjuras dos quilômetros infinitos que me separam ou nas imediatas proximidades do que me cerca, a atual frieza da vida em sociedade dá lugar ao calor da existência interior e agora refletida nessas palavras.Ser sobrevivente de uma luta desconhecida, ser apaixonado por uma alma ignorada, estar em busca de uma missão incerta e incógnita. A mente humana não se familiariza facilmente com a abstração. Transforma tudo que é mistério em misticismo, em superstição ou numa fé equivocada e manipulada. O infinito é a perfeição e é lá que habita Deus, ou tudo aquilo que é maior do que nós. Enquanto seres humanos estamos presos a matéria, vibramos em baixas freqüências e conseguir superar nossa ignorância e aprender com a própria existência é um dos objetivos da nossa vida.O Talmud, livro sagrado dos judeus, nos diz: “Eu conclamo céu e terra hoje para testemunhar contra ti, eu coloquei vida e morte perante ti,bênção e maldição; E ESCOLHERÁS VIDA, para que vivas tu e teus descendentes.” Escolher vida? O que é escolher vida? Seria essa a escolha que a humanidade tem tomado?
Não é só uma questão político-ideologica, é uma questão espiritual. O capitalismo, aposta na morte, um dos “papas” da economia cujo pensamento tem norteado sociedades inteiras durante séculos, John Keynes, dizia, certamente sorrindo: “A longo prazo, todos estaremos mortos”. Sim, nós morreremos, mas a nossa morte não significa que devemos destruir ou consumir tudo como se não houvesse amanhã. Além de cidadãos da terra somos também cidadãos do cosmos. Mas vivemos num tempo onde os sábios são considerados loucos.  Tudo que é sabedoria perde para o que é descartável, para que é de fácil compreensão.Bilhões e bilhões de pessoas anestesiadas. Temos que tentar conseguir encontrar nessa vida a consciência de quem realmente somos, buscar conhecimento e não somente ouro. Nicolas Behr, um poeta extraordinário que vive em Brasília, diz em um de seus poemas “vai ver que o apocalipse já aconteceu e a gente nem percebeu”. Muita coisa já acabou, mas nós melhoramos em uma dezena de coisas graças a nossa inteligência, graças à tecnologia aprendemos a sobreviver a hostilidade do ambiente, mas não a viver na sociedades que nós mesmo criamos.A medicina, os remédios tiram a dor e prolongam nossos anos, mas só adicionam anos à nossa vida, não vida aos nossos anos.
Os sinais estão todos aí, e eu não digo previsões de Nostradamus ou de qualquer outro místico, não falo nem mesmo do que está nas escrituras sagradas de todas as religiões do mundo, porque sei que nem todo mundo acredita em religião, porém não é preciso ser religioso para ver. A nossa autodestruição como planeta é certa, mas a nossa destruição não.Ainda é possível salvar a si mesmo e ajudar a salvar aqueles que querem ser salvos.Não só pela religião, não só pela razão, mas pela solidariedade e pela gratidão de ter vida.
Tarda, mas ainda dá tempo.

2 comentários:

  1. Tarda, mas ainda dá tempo, pois a noite que se segue à tarde é longa, praticamente infinita.

    ResponderExcluir
  2. Este pensamento é o desafio para a sociedade que dá seus passos resvalando a beira de um abismo sem fim.........devemos olhar para o céu e ver um universo fora de nós, nos condicionamos a ver o nosso universo, aquele que começa em nosso próprio umbigo, um engano.....é de dentro para fora, nascemos para servir, para ter serventia, para sermos serventes, uns dos outros e assim de nosso futuro e assim de Deus..realmente é preciso mais do que uma bandeira de alguma religião, é muito mais preciso consciência e sabedoria..pois a vida é simples e complexa ao mesmo tempo.Um viva aos que vivos escolheram vida ao invés de morte....e duraram para sempre!!!!

    ResponderExcluir