quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dos mais belos índios


Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.
(Darcy Ribeiro)

Desde que nascemos aprendemos a escutar o grito dos ventos e o sussurrar da voz que vem da terra, “Ñande Reko Arandu” em nossa língua significa “Nós temos conhecimento”. Penso no pequeno curumim e o significado de seu nome em seu dialeto, “pequeno sol”, sua mãe disse que seus olhos brilharam muito desde que os abriu pela primeira vez e o pajé de sua tribo quando ele nasceu disse: “Esse será nosso pequeno sol que levará através do brilho de seu espírito interior a luz para toda a tribo e sabedoria nos passos do seu caminhar através do raio eterno de todos os seus ancestrais”.
Ele era neto do índio “Pescador de estrelas” e filho de “ olhos de céu” com a índia “ Cabelos cor-de-lagoa escura”, seus irmãos erma: “ A Flor que nasceu nas nuvens” e “ Filho das águas de março”.Quando pela primeira vez descobriu que havia outro mundo além do seu e homens vestidos chegaram a sua aldeia, os índios mais velhos já os conheciam de outras épocas e diziam que : “O homem branco fala com a língua partida", em referência as promessas vazias, as tentativas de os enganarem e em alusão à língua da serpente e ao duplo sentido da linguagem que eles usavam. Um velho índio que morava na oca mais afastada da aldeia chamado “Peito de pedra, coração de carne” um dia lhe ensinou uma lição da qual ele jamais se esqueceu: “Digo sempre que dentro de nós existem dois cachorros: um deles é cruel e mau, o outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando. E se algum dia lhe perguntarem qual dos cachorros ganhará a briga, pare, reflita e diga:- Aquele que eu alimentar...”
Em todos os seus passos, mesmo naqueles mais distantes, o pequeno indiozinho cresceu e se tornou um homem, mas ele jamais deixou de ter em mente os mesmo sonhos, sim grandes sonhos de quando ainda era um curumim, tão maiores do que ele...
E quando eu o conheci nos arredores de Brasília ele me disse: “Algum dia você já sonhou tão grande que no seu sonhou coubesse cada ser humano e cada ser vivente desse planeta? Alguma vez na sua vida você já voou tão alto como uma águia e lá do alto você pudesse olhar a terra com os mesmo olhos que Deus nos vê?” Respondi pra ele que sim! Ele trabalhava num ministério todo de terno e gravata, chamava a atenção pelos seus traços indígenas e pelo cabelo preto e liso, mesmo vestido como “civilizado” era possível ver nele o eco da voz dos povos das florestas.
Porém aquele índio hoje está na porta do Congresso nacional, solitário, pintado para guerra protestando contra o código florestal a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, está lá representando milhares de anos de história, simbolizando a luta da natureza contra o progresso que ameaça destroçá-la, aquele índio é o pequeno sol brilhando sob as trevas do poder que quer esmagar o direito de viver, mas seu espírito de guerreiro é sólido como as rochas e sua forma de lutar é suave como as águas caindo da cachoeira.
E eu daqui de São Paulo queria muito estar ao seu lado nessa luta, porém tudo que me resta é desejar boa sorte e cantar também solitariamente a canção índios da Legião Urbana:  Quem me dera, ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto como o mais importante, mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.Quem me dera, ao menos uma vez,como a mais bela tribo, dos mais belos índios,não ser atacado por ser inocente...

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