Sempre gostei muito de Higienópolis, um bairro quase central de Sampa, por causa da sua arborização e das suas ruas nem tão movimentadas assim. Estudei na Universidade Mackenzie e passei bons tempos caminhando por suas ruas, comendo em suas belas padarias, lendo livros na Praça Buenos Aires e visitando amigos que tenho por lá. A elegância do bairro também é um atrativo, mas remete a uma época antiga, o que me agrada muito. Os bares universitários, restaurantes de luxo, supermercado 24 horas, shopping de lojas luxuosas, a Santa Casa e os moradores sempre discretos e aristocráticos completam a paisagem.
Porém a recente polemica desencadeada pela construção de uma estação de metro no bairro revelou o que antes ficava restrito ao interior luxuoso dos amplos apartamentos do bairro. O preconceito sempre velado e oculto das pessoas, seu medo do outro e sua higiene, aliás, muito condizente com o nome do bairro. Higienópolis significa cidade ou lugar de higiene, foi um loteamento lançado em 1895, com esse nome devido às suas características, ressaltadas pela publicidade do empreendimento, tais como o fornecimento de água e esgoto, que na época eram existentes em poucos locais da cidade. Além disso, possuiria também iluminação à gás, arborização e seria atendido por linhas de bondes, sendo considerado como o maior loteamento em extensão territorial e em importância social e econômica
A associação de moradores, composta por mais ou menos 3.000 pessoas, resolveu barrar essa construção com os argumentos mais absurdos que se poderia ouvir num país em plena marcha por uma melhor distribuição de renda e na luta pela diminuição da distância entre os ricos e os pobres.Os lideres dizem coisas como: O metro vai trazer para o bairro a degradação e a presença de pessoas “diferenciadas” o que se traduzindo é a ralé e com ela a sujeira, o crime, os roubos.Como se presença de pessoas mais simples trouxesse associada a ela sempre coisas ruins e sujas.
Logo eles que conhecem tão bem Paris e Nova Iorque que contam com uma ampla rede de estações do metrô quase que em cada esquina e do beneficio que isso trás aquelas cidades em todos os níveis sociais. Higienópolis na geografia de São Paulo representa uma espécie de fronteira, como um principado entre o bairro Santa Cecília decadente e a Avenida Paulista progressista, contiguo ao Pacaembu outro nobre bairro da cidade e limítrofe com Cerqueira César e Consolação da Classe média paulistana.
Quem mora nesses bairros aristocratas pensa que pelo fato de ter carro não precisa de metro, mas se esquece que a cidade está parando, com suas veias entupidas pela poluição e excesso de carros.Não pensa que é necessário contribuir para uma cidade menos doente e mais viável e transitável E os “criados”, que recentemente foram chamados de “animais” pelo ex-ministro Delfin Neto, merecem uma melhor condição de transporte para chegarem as casas de seus patrões e preparem o almoço, limpar a casa, abrir o portão, cortar a grama, fazer a segurança, dirigir seus carrões e buscar as crianças na escola entre tantas outras coisas necessárias para uma vida confortável.
Ou será que os balconistas, diaristas, faxineiras, motoristas, seguranças, vigilantes, arrumadeiras, babás, cozinheiras, porteiros, e tantas outras profissões não merecem esse direito? Não importa se há outras estações próximas, o que interessa é melhorar o transporte publico, facilitar o acesso das pessoas ao trabalho e diminuir o número de carros nas ruas.
Essa rejeição não é só uma questão de localização geográfica, ela é motivo de minha vergonha de ser paulistano porque sempre acreditei numa cidade, sociedade e país onde, a igualdade e a convivência entre pessoas de destinos diferentes fosse possível e harmoniosa.Mas não é o que temos encontrado, no lugar disso temos mais uma vez sim um ato simbólico de preconceito e distorção de valores da sociedade por causa visão curta de uma classe social que se julga acima de todas as outras e por isso imagina que possa manter seus privilégios em detrimento das necessidades do resto de toda uma cidade.
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